Em 2009, o responsável da agência económica Bloomberg na China, Eugene Tang, defendeu em Pequim, no âmbito da Cimeira Mundial dos Média, que, “na era da Internet, qualquer pessoa com uma câmara e um telemóvel pode ser jornalista”.
Esta é, contudo, uma visão muito estreita e restritiva, sobretudo em Angola. Nestas bandas nem é preciso ter uma câmara e um telemóvel para ser jornalista. Para isso basta ter um cartão do partido no Poder que, no nosso caso, é o mesmo desde 1975. Há excepções? Há. O Folha 8 é uma delas. As coisas parecem estar a modificar-se? Parecem.
Eugene Tang falava perante responsáveis de 170 órgãos de informação que estiveram reunidos a 9 e 10 de Outubro de 2009 para analisar os desafios e oportunidades que a era do digital e do multimédia coloca aos meios tradicionais: agências noticiosas, jornais, estações de rádio e de televisão.
A posição expressa por Eugene Tang – de que os jornalistas são uma classe condenada a curto prazo – foi rebatida pelo presidente da agência noticiosa alemã DPA, para quem “um cidadão-jornalista nunca pode substituir um verdadeiro jornalista”.
Pois é. Mas onde estão os verdadeiros jornalistas? E será que os donos do país e, indirectamente ou não, donos dos meios de comunicação social estão interessados em ter jornalistas?
“Quando temos um problema em casa procuramos um canalizador profissional e não um cidadão-canalizador”, comparou Malte von Trotha.
Comparou bem. O problema está que para os donos dos meios, tal como para os donos do país, os angolanos são matumbos e comem tudo o que lhes é dado. E se assim é, tanto faz um texto escrito por um jornalista como por um cidadão-jornalista. Além de tudo, o cidadão-jornalista até trabalha mais barato ou de borla. Portanto…
Ainda segundo Eugene Tang, a grande maioria ou mesmo a totalidade dos jornais norte-americanos corre risco de extinção nas próximas duas décadas, devido ao rápido desenvolvimento dos novos média.
Embora concordemos com Eugene Tang, cremos que o problema principal está no facto de os jornais, neste caso, serem meras empresas comerciais que, em função do seu único objectivo – a sobrevivência -, querem mão-de-obra barata para apenas se preocuparem com a informação em série, sem cuidarem da formação, e muito menos com a deformação das sociedades.
O futuro da imprensa foi também focado pelo presidente da agência noticiosa japonesa Kyodo, Satoshi Ishikawa, segundo quem o declínio dos jornais no Japão “não tem sido tão acentuado como noutros países”, talvez porque quase 100 por cento das tiragens da imprensa ser entregue no domicílio, em lugar de estar à venda nas bancas.
Ainda assim, reconheceu Satoshi Ishikawa, as receitas publicitárias diminuíram, havendo cada vez menos jovens a ler jornais.
A Cimeira Mundial dos Média foi uma iniciativa da agência noticiosa oficial chinesa Xinhua (Nova China), com o apoio de oito grandes empresas mundiais do sector, caso da BBC, da Reuters, da Time Warner e da News Corporation.
Em Angola basta ter dinheiro para ser dono de um jornal e, é claro, para ditar as regras, para lá mandar pôr o que muito bem entender, sejam as fotografias da sogra, do rafeiro ou da amante.
Essa coisa do direito à liberdade de criação e do direito à liberdade de expressão é algo, convenhamos, que não se encontra nas sarjetas onde muitos dos nossos políticos empresários, ou empresários políticos, fizeram a sua formação.
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